quarta-feira, 22 de abril de 2009

"Quem não pensa em voltar."

"Deitei. Voltei ao meu casulo de algodão. Eu sentia falta do escuro e da felicidade que sentia ao estar entre os galhos das árvores altas ao meu redor, a me proteger e arrancar de mim todo e qualquer pensamento bobo. Era meu êxtase. Agora, eu já me esquecia de como eu era feliz, de como era estar envolvido pela incerteza ao estar lá, na minha floresta, no meu lugar. Como eu sonhava ao ser abraçado por ela... Como eu sorria ao pensar que era ali que eu sempre quisera estar, na sua escuridão. Mas, contra minha vontade, a luz do sol invadiu o meu abrigo.

Não adiantou me esconder na sombra das copas, pois não existiam mais árvores, nem fingir acreditar nas incertezas, pois estava tudo muito claro para isso. E desejei deitar no chão confortante e fazer dali o meu refúgio, mas não havia mais o chão. A minha floresta estava se transformando num oceano.
Eu sentia o frio da água me machucar. Doía muito estar sem seu calor. No oceano, claro e profundo, eu sentia que nada mais ali era meu. Tudo me invadia. Eu lutava para sair, para encontrar a minha superfície, a minha floresta, mas a água me prendia. Aos poucos, o frio cortava meu coração e eu já não conseguia mais respirar.

Milhares de coisas passaram por minha mente... O que eu fizera? Onde havia errado? Por que fora tirado de mim o meu presente 'mais presente que qualquer dádiva'? Não era justo. Tentei gritar, chamar por ela, mas naquele imenso vão, nada se propagava, como nada se propagaria em meu coração frio. Se eu não fizera nada, então fora ela. Minha floresta me traíra, me expulsara de dentro dela, deixando em seu lugar esse oceano, com minhas lágrimas tentando esquentar a água, inutilmente. Então fechei os olhos e apenas parei minha luta. Desisti e afundei cada vez mais na certeza do fracasso, cada vez mais fundo no vácuo do meu coração congelado.


Ao abrir os olhos, vi ao longe seu escuro. Vi as árvores dançando com o vento. A floresta me chamava, gritava por mim. Bati meus braços, pernas... Queria logo chegar até ela, falar sobre minha saudade, falar sobre a falta que ela me fazia. Mas ao chegar em seu escuro, percebi que essa não era a minha floresta. Estava exatamente igual aos meus olhos, mas eu não podia mais sentir o seu calor, seus braços me afagando. Não era a mesma.

Não sei se fora a perda ou a tristeza de pensar que nunca mais a teria, mas eu ainda sentia meu coração vazio, frio, morto. Nunca mais sentir aquele calor, para mim, seria a pior de todas as perdas. Pensei se as árvores, os galhos e a escuridão poderiam suprir sua falta, preencher um pouco do vazio, mas eu tinha certeza que não. A água fria havia deixado respingos frios e cortantes em mim. Ou minha tristeza, ou meu orgulho, mas ali não era mais o meu lugar. Deixei a floresta, saí em passos lentos e tristes. Ao meu lado, o oceano tranquilo também me dizia adeus. O sol brilhava intenso, machucava meus olhos, mas tentava aquecer meu coração.


Eu sabia que isso custaria muito. Custaria esquecer a minha floresta, levaria de mim tudo o que mais fizera feliz a minha vida. Tudo se resumiria a pó.

Mas pela primeira vez, pedi para o sol não se pôr."