quinta-feira, 11 de março de 2010

Dois corpos

Antes que você saia, não deixe de dizer o que preciso ouvir.
Não se esqueça de me tocar delicadamente,
Como quem teme machucar minha pele,
Como quem anseia me ter em sua pele.
Sinta-me completo, absorva cada detalhe.

Entendo que a porta está aberta para você sair,
Mas não tenha pressa de ir embora sem me fazer bem.
Respire cada perfume que exalo para te seduzir,
E como se eu estivesse te seduzindo, sinta desejos.
Sacio suas vontades com prazer, sente-se e sinta.

Como fosse minha boca o seu desejo mais profundo
Beije-me cada vez mais fundo, cada vez mais voraz.
Queira mais, sempre mais, e morda sem pena
Que valerá a pena o bem que você me faz.
Então faça mais.

Veja a noite lá fora, fria e impetuosa, pela janela.
E depois me veja em brasas, a sua espera.
Dos meus poros, o suor ardendo, te convidando.
Então não vá embora agora, fique mais um pouco.
Prove desse corpo que só tende a queimar mais.

Deixe suas mãos curiosas me percorrerem,
Cada relevo, cada volume, cada centímetro.
Mapeie meu ser inteiro como se fosse sua terra
A ser descoberta, descubra.
São suas as minhas coordenadas essa noite.

Somos idênticos nos nossos defeitos,
Assim saberei fazer o que gosto de sentir.
Saberei saciar cada desejo que provoquei.
Somos iguais, mas não se preocupe
Que o pecado fará você sorrir.

Por fim, me possua com força.
Não tema mais machucar minha pele queimando.
Chegaremos juntos ao êxtase de estarmos unidos,
Como se não existisse mais nada lá fora.
E a noite queimará aos nossos gemidos.

Antes que você saia, me faça novamente feliz.
Sei que já deve ir embora agora,
Mas quem sabe você precise de mais detalhes.
Percorra-me outra vez, certifique-se, vamos recomeçar.
Feche a porta, ainda não terminamos.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Não faz sentido algum.

Não consigo entender por que fechar os olhos dói tanto. Eu vejo as pessoas sorrindo, eu vejo a felicidade... Eu as possuo? Eu as possuo ou elas me possuem? Dói pensar no passado, dói pensar no futuro... Como se eu me encontrasse num labirinto escuro, bem no seu centro. Olho para trás e para frente e sinto medo. Fico parado, esperando que algo me encontre. Espero. Então erro. Por que não correr? Por que não dar passos para procurar a saída? Porque me conformo com a dor, com os obstáculos que não consigo superar. Eu vejo os medos, eu vejo os monstros... Eu os possuo ou eles me possuem? Eu crio personagens, protagonistas e antagonistas, mocinhos e vilões, e figurantes, para atuarem na minha vida. Sendo autor, crio emoções, sensações, mas não sou diretor de mim, não dirijo os sentimentos que criei, não dirijo a luz do sol e nem meu coração, muito menos. Não sei se sou o vilão, também não sei se sou meu protagonista. Encontro num estranho um abrigo, um poço para aliviar meu fardo pesado. Torno-me parasita, torno-me injusto. Torno-me algo? Qual minha classificação, meu rótulo?

E o que será de mim? Tenho a certeza das coisas incertas que desejo, isso é o suficiente? Como ter certeza de que não resolvi ainda qual rumo tomar no labirinto. Fantástico. Eu vejo tantas formas, eu vejo tantos padrões. Queria me permitir imaginar. O que eu quero ver, então? Gostaria de ver o que se passa dentro de mim. Eu toco faces, eu beijo faces, mas nunca fui tocado, nunca fui beijado por mim. Poderiam então me conhecer melhor do que eu me conheço? Próxima questão: eu me conheço alguma coisa? Fechar os olhos dói não porque eu desconheço os outros. Dói porque eu me desconheço. Não sei se ando ou se permaneço estático porque não sei meus limites. Aceito a dor porque não sei se suportaria deixá-la. Torno-me parasita porque não consigo ser meu próprio hospedeiro. Eu me possuo ou me possuem? Quero imaginar. Não, não tenho respostas hoje, mas gosto de ver o céu. Estou no labirinto escuro, mas quando olho para cima, aquelas estrelas que me velam lá de longe me acalmam. Não tenho certezas hoje, mas posso me camuflar, por um momento, das coisas que me torturam.

Se eu criei um labirinto escuro e sem saídas aparentes, posso criar um céu estrelado para meu próprio conforto. Faz sentido.