sábado, 26 de fevereiro de 2011

Se eu começar a questionar.

Todas essas pernas apressadas, para onde elas vão? E esses corações descompassados, que lugares eles guardam? E esses olhares curiosos, procuram algo? E os olhares que não vêem, como ficam na escuridão? Sabe o tempo, sabe Deus. Quanto tempo ainda temos para gastar, e quantas palavras ainda vamos dizer, e quantas escadas estão a nos esperar, sabe Deus. E se o relógio atrasar, e se o barulho se perder. Pois bem, para onde vai o passarinho só, que ônibus ele vai pegar?

Chegou o entregador cansado, qual é a sua relação? E o senhor despreocupado, olhando o mapa, querendo ir a algum lugar que não existe. E a moça sorridente achou um sentido para se mandar. E se o tempo parar? E se a criança não achar a mão do seu pai, para onde irá?

Lá vem a velha mulher que me pediu um trocado, que não tem para onde ir. Quanto resta? E os centavos de sua felicidade, como ela vai gastar? E o homem que vende doces, qual a sua relação? O menino que quebrou o braço cuidando do seu cachorro, quer correr, não quer parar. E um homem olhando a parede, procurando o quê? Essas rodas desenfreadas, quantas voltas elas dão? E os ponteiros do meu relógio, que rodam sempre no mesmo lugar?

E esse menino sentado com um cardeno na mão, qual a minha relação? Sabe, Deus, que quase não sei de nada. Minhas pernas apressadas e meu coração descompassado não guardam tantas coisas. Meu olhar curioso não está a procurar. Quanto tempo até meu ônibus chegar? E quando eu cansar de procurar no mapa, não me mando. E se eu não encontrar sua mão, onde vou? Centavos de minha felicidade, quantas voltas eles dão? Sempre que me questiono, sinto que a vida roda sem sair do lugar...

E o que acontece se eu parar de questionar?

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Com vivência.

Vivência:
(latim viventia, -ae)
s. f.
1. Processo ou manifestação de estar vivo. = vida
2. Experiência ou modo de vida.


Conviver:
v. intr.
1. Viver com outro;
2. Ter intimidade.



Você acorda, o dia está escuro. Seu humor não está dos melhores. O colchão e o cobertor parecem bem mais atrativos que o mundo lá fora. O travesseiro então, nem se fala. Mas você é obrigado a levantar, suportar as pessoas que também esperam para te suportar. Sim, conviver é basicamente isso. Um suportando o outro e assim vai. Você sorri, um sorriso amarelo que é retribuído por outro. Você tenta entender por que as pessoas se movimentam, correm, gritam, quando todos também gostariam de estar em seus casulos de lençol, sozinhos e sem conflitos, porque o máximo que podem existir nesse estado é um conflito consigo mesmos.

Mas não, nós adoramos conflitar uns com os outros, adoramos continuar na busca sem fim de entender o próximo, o distante, e assim vai. E você adora questionar os costumes daquele, reclamar do aspecto estranho do outro, a pose desse ali, o gesto de mais um lá. E você gostaria de um manual de instruções das pessoas para que tudo fosse mais fácil, para que você acordasse e sentisse gosto em compactuar com eles. Porque nós somos assim. Nós queremos coisas assim, vai.

Então, eis que você está errado. Nós estamos. As pessoas não são cigarros, que tragamos e tragamos para saciar nossa necessidade de convivência – porque ninguém vive sozinho – e, ao fim, jogamos fora o filtro, que não é mais útil. E depois, no cúmulo de nossa ignorância, pegamos outro cigarro na carteira, que por sua vez terá utilidade, e tragamos, tragamos. Muito menos são remédio com bula, que lemos para saber a quantidade certa da dosagem, para tomá-los com cautela e assim não terem efeitos contrários. Não!

Você não pode substituir pessoas, nem medir o quão participativas elas serão na sua vida. E mais, você não precisa entendê-las.

Eis aqui um bom motivo para acordar e sentir gosto de viver. Procure entender menos dos outros e conhecê-los mais. Procure num sorriso amarelo a certeza que você pode colori-lo. Nós não vivemos sozinhos apenas por essa ser a única saída para solidão. Nós vivemos assim porque temos vontade de explorar o ser humano, seus sentimentos, seus desejos, seus medos, porque não precisamos de manual de instruções nenhum, queremos ser descobridores e, sem termos manuais também, queremos ser explorados. É um desafio, não é? É. E é esse desafio o fio de nossa motivação.

Trague, trague sem fim o delicioso cigarro da nossa convivência. Beba todo o remédio desse presente que são os conflitos e as contradições do ser pensante, pois é isso que move o mundo. Não deixe que viver em conjunto seja apenas outro fardo da vida, e sim o trem que a carrega.

Entender os outros é sempre o primeiro passo para desentendermos com nós mesmos. Conhecer os outros é mergulhar num dia escuro, num mar profundo, onde nunca deveríamos querer voltar à superfície.